sábado, 6 de maio de 2017

Jalapão - Parte 5

Estava tomando café da manhã na pousada e tinha um casal e mais uma rapaz em outra mesa. Pelo papo parecia que eram de Curitiba, então puxei papo e de fato eram! Eles estavam fazendo o Jalapão através de uma agência de turismo e tinha espaço na caminhote e talvez conseguisse uma carona com eles! Opa! Conversei com o guia/motorista e sim, ele poderia me dar uma carona! Sensacional! Como eles seguiriam para São Felix no dia seguinte, combinamos de nos encontrar em um fervedouro onde eles almoçariam e de lá pegaria a carona para Palmas.

Resolvido o problema logístico da volta, arrumei as coisas com calma e sai de Mateiros com destino ao fervedouro do Ceiça. Alguns kms saindo de Mateiros eu encontrei com o Edmilson, lá da Cachoeira da Velha. Ele tava preocupado comigo :-). Agradeci pelo cuidado e fiz um resumo dos últimos dias. Mais um pouco pra frente tive o primeiro e único problema mecânico da viagem: furou o pneu traseiro! Como remover a roda com o Rohloff é meio chato, fiz como de costume, e remendei a câmara sem tirar ela da roda.


 (Saída de Mateiros)
(remendando a câmara sem tirar a roda :-) )

Mais alguns kms pra frente, cheguei na entrada para o Fervedouro do Ceiça e segui para lá. O fervedouro é na verdade a nascente de um rio, mas a água sai com pressão por debaixo de um solo arenoso e quando vc  fica em cima dessa saída de água ela te empurra pra cima e vc não consegue afundar. É estranho, porque vc fica com água pelo peito e pernas "enterradas" na areia (na verdade areia em suspensão) até a altura do joelho! O Fervedouro do Ceiça é pequeno, mas é um dos que tem mais pressão. E é também uma máquina de fazer dinheiro, pois é cobrado R$ 10 por pessoa. Quando cheguei lá tinha um grupo de umas 15 pessoas! O Ceiça faz um controle para que só fiquem 6 pessoas por vez na água.

 (Fervedouro do Ceiça)
 ("boiando" em pé)
(minha carona do dia seguinte!)

Quando estava saindo do Fervedouro, o pessoal de Curitiba e guia chegaram e aproveitei para confirmar o encontro e pegar mais alguns detalhes do local. Segui em direção a cachoeira do Formiga e sofri um pouco com o calor. A cachoeira fica a alguns kms da estrada principal, e esse trecho da estrada até a cachoeira tem um bocado de areia! Na cachoeira tem uma pequena estrutura com bar/banheiro e aproveitei para almoçar por lá. Encontrei de novo aquele grupo grande de pessoas que estavam no fervedouro. Fui para a Cachoeira mas pude aproveitar pouco, pois o tempo virou completamente e desabou maior chuva. Fiquei um bom tempo esperando dar uma melhorada no tempo para seguir viagem até o Camping do Vicente.

 (Cachoeira do Formiga)

(amiguinhos do almoço)

Tinha lido relatos falando do Vicente e do camping dele, e chegando lá estava curioso para conhecer o Vicente. Por sorte ele estava lá sim, mas acabei conversando mais com o Roberto, um amigo do vicente que está assumindo a administração do camping junto com a esposa. Pela quantidade de material de construção que tinha por lá, o negócio parece que vai ficar bem legal! O Roberto trabalhava com telecomunicações e já rodou o Brasil inteiro, então espero que traga idéias novas pra região, que de uma maneira geral carece de uma visão mais "turística" (ser "roots" é legal também, mas é tudo muito "roots" :-) ).

 (falando em "roots": Bikepacking Raiz)
 (e a bebida da região. Raiz tb :-) )
 (Camping do Vicente. Em obras para melhor atendê-los !) 
 (Para contrastar, segue a versão Bikepacking Nutella)
(esse é o Roberto)

De novo armei a barraca debaixo de espaço coberto, então mesmo com chuva não foi preciso usar o sobreteto. Como estava preocupado com a carona, acordei um pouco mais cedo que o usual e arrumei logo as coisas para pegar a estrada. Desse ponto em diante a estrada fica bem melhor e acabei percorrendo os 50km até a entrada do Fervedouro Bela Vista bem rápido. No caminho uma das vans que saiu de Mateiros passou por mim, outra só 3 dias depois :-).

(a caminho do Fervedouro Bela Vista)

O Fervedouro Bela Vista é bem maior do que o do Ceiça, e possui umas 6 saídas de água, embora com um pouco menos de pressão. Mas é legal assim mesmo :-). Acabei chegando antes que minha carona, então deu tempo de arrumar as coisas e dar uma descansada. O pessoal chegou e acompanhei eles na visita. Almoçamos por lá mesmo, e aproveitei para mandar mais um pedido de agradecimento ao Edmilson, já que a esposa dele trabalha como cozinheira lá no Bela Vista.  

(Fervedouro Bela Vista) 


Depois do almoço, colocamos a bike na caçamba da caminhote, tomei meu dramim e seguimos viagem em direção a Novo Acordo. No caminho paramos para fotos na Serra da Catedral e para um lanche rápido/água na entrada do Fazenda/Camping do Camilo. Próximo a Serra da Catedral fica um lugar legal mas que não deu tempo de conhecer, o Jalapão Eco Lodge (#ficaadica). O trecho de São Felix a Novo Acordo é relativamente longo e sem grandes atrativos, a não ser a paisagem mesmo, mas que é mais fechada por conta de uma vegetação mais alta. Fizemos mais uma parada em Novo Acordo e de lá para Palmas foi rápido pois pegamos o asfalto. Em Palmas acabei fiquendo no mesmo hotel que o casal de Curitiba (achei que não ia dar, mas apesar da cara de chique, o preço era bem razoável :-) ). A noite saí com o casal para comer uma pizza, afinal, foram duas sexta-feiras sem pizza.

 (Serra da Catedral, e o tempo virando, de novo!)
 (Formações rochosas próximos ao camping do Camilo)
 (diz o guia que com bastante imaginação vc consegue ver um formato de macaco aí...)
(Entrada pro camping do Camilo)

Acabou que o tempo foi curto, mas consegui fazer tudo que eu tinha planejado. Inclusive aproveitar o dia em Palmas para visitar o PoP-TO (programa de nerd :-) ). Almocei com o pessoal do PoP e por conta da chuva que caiu depois do almoço ainda ganhei uma carona salvadora até o aeroporto! Desmontei a bicicleta lá mesmo e usei aquele serviço de embalagem de bagagem (bom, mas é bem caro! R$ 150 por causa do tamanho da bike). Viagem padrão de volta para Curitiba, com direito a aeroporto cheio em BSB, mas sem surpresas. 

(embalada pra voltar pra casa)

Resumo dos dias: 40km de Mateiros ao Camping do Vicente (track aqui). 51km do Camping do Vicente até o Fervedour do Bela Vista (track aqui).


Jalapão - Parte 4

O trecho previsto para o dia era curto, uns 40km, mas com uma caminhada para subir a Serra do Espírito Santo. Saindo da Benita, dá uns 8km até a entrada para a subida da serra e o pedal foi tranquilo até lá. Prendi a bike em um poste/placa e me preparei para a subida. A começo é puxado mas curto, pois são uns 900m de caminhada em uma subida inclinada, embora dê para "parcelar" em 3 ou 4 vezes pois tem uns mirantes no caminho com bancos de madeira. Ao chegar no topo, tem mais um trecho de uns 3km, mas bastante plano e que seria perfeitamente pedalável, embora o esforço para subir com a bike não deva compensar :-). Fiz a subida e mas o trecho plano praticamente numa "tacada" só (ou seja, deixei para tirar as fotos na volta) e segui para o mirante para as dunas.



 (amanhecer na Benita. Mais tarde eu passaria por cima dessa serra :-) )
 (coleção de camisetas na Benita)
(areia? só um pouquinho...)
(fim da subida)

A vista do mirante é bem legal, embora lá de cima se descubra que a área de dunas não é tão grande assim. As escarpas da serra também são legais e formam texturas interessantes que o "fotógrafo" aqui não conseguiu capturar direito! Lanchei e percorri de novo o caminho até o inicio da descida e dessa vez parei no mirante dessa lado da serra. Legal ver como a estrada contorna a serra e segue em direção a Mateiros. E legal também ver as formações rochosas tipo "mesa" ao longe durante a descida da serra.

 (vista de cima da serra. A foto não faz jus as texturas dos paredões)
 (aquele triângulo são as dunas)


De volta a bike, fui repor a água da mochila de hidratação e cometi um erro besta... não fechei direito e comecei a sentir as costas mais úmidas do que o normal. Quando fui conferir, descobri que o 1,5L que eu havia colocado virou apenas 0,5L!


 (estrada sentido Mateiros)



Voltei pra estrada já preocupado com a água, e para ajudar, esquentou bastante em relação ao começo da manhã. O trecho até mateiros não é longo, mas tem uns trechos de areia nas imediações da Serra, o que tornou o pedal mais dificil e aumentou o consumo de água! O movimento de carros é muito baixo, mas dei a sorte de encontrar um pessoal de caminhonete e parei para pedir água. Ganhei uma garrafinha de 500ml que foi salvadora.

Ia ser dificil chegar em Mateiros com tão pouca água, mas após mais uns 15km achei um rio e aí sim resolver o problema de vez, pois enchi a mochila (2L) e mais a garrafa de 1,5 que estava carregando! Resolvido o problema da água, chegar em Mateiros foi tranquilo. Segui direto para o Restaurante da Dona Rosa (o qual eu havia lido várias recomendações). Depois do almoço, resolvi ficar em Mateiros mesmo para pensar em como resolver a logística de voltar para Palmas a tempo do meu vôo, já que não daria para completar todo o percurso no pedal. Fui atrás de pousada, me hospedei e aproveitei para cuidar das roupas também. Aproveitei o fim da tarde para comprar alguns suprimentos e me informar sobre transporte. Infelizmente a situação lá é meio "complicada". A partir das duas cidades que são a "entrada" para o Jalapão, ou seja, Novo Acordo ou Ponte Alta, que contam com estradas asfaltadas, é possível encontrar transporte para Palmas diariamente. Já Mateiros e São Félix, o transporte é feito por micro-onibus, mas só em alguns dias da semana. E para ajudar as informações não são muito precisas, pois ouvi gente dizendo que tinha transporte na 4a e sábado, e outros dizendo que era na 5a e domingo. Acabei achando a informação no muro da casa dos motoristas (pai e filho) que fazem o transporte. Possivelmente minha melhor opção seria pedalar no dia seguinte para visitar alguns lugares e retornar a Mateiros para pegar o transporte. Acabei achando outra solução, mas conto no próximo post :-).


 (Mateiros)
 (serviço de utilidade pública: horario das vans. Essas vão por São Felix)
(e essas por Ponte Alta)


Resumo do dia: 8km de pedal até a serra (aqui) + 6km de caminhada (aqui, mas esqueci de ligar o GPS no começo da subida) + 24km de pedal até Mateiros (track aqui)